Por: Marco Lessa
O Brasil tem uma longa história na produção de cacau, sendo um dos principais produtores mundiais. O setor cacaueiro é fundamental para a economia nacional, gerando empregos, exportações e desenvolvimento, especialmente na Bahia e no Pará, que juntos respondem por mais de 90% da produção nacional. Nos últimos 15 anos, o Brasil tem se destacado na produção de chocolates de origem, agregando valor ao cacau e fortalecendo marcas nacionais no mercado global. Esse movimento impulsiona o turismo gastronômico e valoriza o cacau de origem, especialmente no sul da Bahia e na região do Xingu, no Pará.
Apesar de sua importância econômica, a produção de cacau no Brasil já enfrentou desafios severos, como a doença vassoura-de-bruxa, identificada na Bahia na década de 1980, que devastou as lavouras e reduziu drasticamente a produção nacional. Atualmente, um novo risco ameaça a cacauicultura brasileira: a monilíase do cacaueiro, um fungo altamente destrutivo que já afeta países vizinhos. Caso essa doença chegue ao Brasil, pode causar perdas severas na produção.
Diante da gravidade da situação, controlada graças aos esforços dos governos estaduais e da CEPLAC, resolvi contribuir desenvolvendo projetos e missões técnicas que promovessem a verticalização da produção, agregassem valor e debatessem toda a cadeia produtiva, como o Chocolat Festival, criado em 2009. Nesta jornada, conheci o pesquisador Paulo Coelho Vieira e a Fundação GHP – Global Humanitarian Program, na Bélgica, da qual me tornei parceiro. Foi-me apresentada a Effatha, uma tecnologia inovadora, de origem brasileira, desenvolvida para melhorar a resistência de plantas, reduzir os impactos de doenças e aumentar a produtividade das lavouras.
A Effatha é uma tecnologia agrícola baseada em soluções biotecnológicas desenvolvida em parceria com várias universidades e centros de pesquisa. Aplicada ao cacau, pode ajudar no controle da vassoura-de-bruxa e na prevenção de doenças emergentes, como a monilíase. Entre seus benefícios, destacam-se: aumento da produtividade, melhoria da resistência das plantas a pragas e doenças, redução da necessidade de defensivos químicos, maior rentabilidade para os produtores e sustentabilidade ambiental.
Como representantes da Fundação GHP, em 2024 apresentamos a tecnologia aos governos da Bahia e do Pará para combater a vassoura-de-bruxa, prevenir a monilíase e aumentar a produtividade, restaurando a economia de regiões como o sul da Bahia e ampliando a produção no Pará e em outros estados produtores. O Brasil pode inclusive exportar essa solução para outros países afetados por esses fungos, como Ghana e Costa do Marfim.
Apesar das resistências e dúvidas comuns a tecnologias inovadoras, já dispomos de material suficiente, no Brasil e no exterior, para comprovar sua eficácia. Durante o Brazil Origem Week, realizada na Grand Place de Bruxelas em 2024, visitamos uma plantação de milho onde a Effatha é responsável por ganhos de produtividade de cerca de 30%. Assim, os governos estaduais e federal podem investir pioneiramente na cura dessas doenças do cacau, tornando o Brasil mais sustentável, socialmente justo e com o verdadeiro sabor do melhor chocolate de origem.
Marco Lessa, 54, é empresário e criador do maior evento sobre cacau e chocolate da América Latina.
Fonte: mercadodocacau